sobre colocar o pé na água
Dia desses eu encontrei um colega no ônibus, enquanto voltava de um dia emocionalmente estressante (como quase todos os outros dias de 2019).
No meio daquele papo vazio de fim de segunda-feira, das expressões “nossa eu tô cansada”, “sem tempo irmão” e “como tá lá no trabalho?”, ele me contou, com um sorriso tímido no rosto, que estava saindo com uma garota que conheceu recentemente.
Automaticamente, perguntei como estava sendo.
E ele me deu a seguinte resposta:
Sabe quando a gente vai na praia , fica ansioso pra colocar o pé na água, mas tem medo que ela esteja gelada demais? E aí, quando coloca, percebe que está na temperatura perfeita? É assim que está sendo com ela.
Aquilo me tocou de uma forma inexplicável.
Foi a primeira vez que eu ouvi uma analogia sobre quando você conhece alguém novo que não remeta a coisas extremamente metafóricas, como a famosa história das borboletas no estômago. Tudo bem que a ideia de ter um órgão repleto de insetos não é a coisa mais fofa ou verossímil do mundo, mas quando você para pra pensar no que realmente acontece nesse fatídico momento que você sabe que vai mudar a sua vida (de uma forma ou de outra), entende que a parada como um todo é muito mais assustadora — e real.
O medo da temperatura me parece muito mais preciso. E envolve tantas outras coisas… Talvez você não saiba nadar, talvez a água esteja gelada demais mesmo, talvez esteja quente, talvez tenha cheiro de xixi, talvez tenha sal demais, talvez traga uma água-viva. A gente nunca sabe o que vem junto com esse primeiro passo.
E quando você descobre que a temperatura está perfeita, você simplesmente sabe. Não precisa entrar na água até os ombros pra entender isso. Não precisa ir muito longe. O medo se encarrega de ir embora sozinho quando a gente percebe que chegou onde queria e precisava chegar.
Depois de algumas tentativas nessa vida, eu posso dizer que já tive meu momento de encontrar a temperatura perfeita. Também já tive a decepção de estar gelada, de encontrar algo que não queria, de ficar com medo e sair correndo de volta pra areia, de nem chegar a ir à praia porque, afinal de contas, tenho dermatite atópica. E tá tudo bem.
Mas quando o vi falando daquela forma, eu entendi tudo.
Se eu pudesse parafrasear alguém pra terminar esse texto, provavelmente seria Forrest Gump… Mas talvez a vida não seja uma caixa de chocolates, e sim um grande mar aberto — cheio de peixes, de ondas calmas e agitadas, com medos e oportunidades — onde a gente nunca tem certeza do que vai encontrar.
E, céus, que a gente pare de ter medo de colocar o pé na água.